Novembro Azul: por que o câncer de próstata ainda é um tabu?

Quase 20 anos depois da Campanha Novembro Azul ser criada na Austrália, com o intuito de promover a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de próstata, este assunto ainda é um tabu para muitos homens.
Por que será que isso ainda acontece? Imagine você viver em um mundo onde boa parte dos homens são proibidos de demonstrar fragilidade, chorar e se sentem “obrigados” a ter que provar o tempo todo o seu interesse pelas mulheres?
Esse tipo de machismo estrutural acaba refletindo na falta de cuidados com a saúde física e mental, ao ponto de muitos homens, com idade a partir dos 45 anos, evitarem ir ao urologista para realizarem os exames preventivos, imprescindíveis para avaliar se há alterações na próstata.
Para que se tenha uma ideia do cenário, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) comprovou recentemente que no Brasil um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata. Esse tipo de doença que mais atinge a população masculina perde somente para o câncer de pulmão.
Além disso, no período de 2019 a 2021 o câncer de próstata causou 47 mil óbitos. E para 2022 o Inca projeta 65.840 novos casos de câncer de próstata.
Portanto, trata-se de uma doença cuja prevenção e o diagnóstico precoce ainda são as melhores saídas, mas os tabus que o homem carrega em sua formação acabam funcionando como uma espécie de “câncer coletivo”, em forma de machismo, que também precisa ser vencido.
Os resultados da pesquisa “O que pensa o homem brasileiro", realizada em 2022 pelo Instituto Ideia e a revista GQ comprovam que o machismo é a principal causa, ao ponto de sobrecarregar as emoções: 83% deles já se sentiram estressados, 74% sofreram com ansiedade, 34% enfrentaram depressão e 26% tiveram crises de ansiedade.
O levantamento foi realizado com cerca de 700 homens, de todas as faixas etárias, classes sociais e regiões do Brasil, e segundo o médico psiquiatra Dr. Jairo Bauer, em sua coluna do Viver Bem Uol, “o homem brasileiro está com a saúde mental e a sexualidade em xeque”, ao ponto de 25% deles já terem enfrentado dificuldades com a ereção e 33% precisarem lidar com a ejaculação precoce.
“Quando se olha alguns outros dados da pesquisa pode-se perceber que esse homem ainda luta com a desconstrução do seu machismo (boa parte talvez, nem esteja tentando), o que pode impactar também a forma como ele lida com o sexo e com eventuais dificuldades nessa esfera”, explica o médico.
É por isso que é tão importante falarmos sobre a saúde mental dos homens e nos questionarmos onde queremos chegar como sociedade, com ideais que geralmente influenciam negativamente na saúde integral dos homens, apesar de alguns avanços.
E o primeiro passo para o equilíbrio entre corpo e mente pode ser o reconhecimento dos seus limites e, em seguida, buscar soluções para que sejam respeitados, como por exemplo, estabelecer novos hábitos, como exames e consultas médicas anuais.
Acabar com o sedentarismo, fazer exercícios físicos e manter uma alimentação saudável também são atitudes fundamentais para quem se preocupa com a longevidade.
E se precisar de apoio e orientação para poder cuidar melhor da sua saúde física e emocional de uma forma mais integrada e eficiente, busque um médico ou um psicólogo.
O mais importante é ter a consciência que é possível transformar essa cultura impositiva que ainda vivemos, adotando pequenos gestos diários de hábitos saudáveis de autocuidado e de amor por si mesmo!
Por Elaine Medeiros, jornalista e psicóloga